domingo, 4 de novembro de 2012

O inferno,o purgatório,o paraíso e Dinorá


Desembarquei na estação com duas malas e dali fui para o Hotel Aurora. No quarto do hotel,tomei banho,fiz a barba e vesti uma roupa que ,dobrada com cuidado dentro da mala,não amarrotara.
Tratei então de fazer o inventario de minhas obrigações: visitar Fulano,Beltrano,Cicrano e levar a encomenda de Nicano.
Enquanto isso,ver as pernas das moças na praça e nas ruas. Tinha também de ir falar com o Vigário, na sua igreja
cumpri tudo escrupulosamente, sem pressa, e tomei café em cada casa,indagando da saúde de uns e de outros . Em algumas casa serviram também água fresca de moringa, ou limonada.
Afinal, cheguei ate a igreja para dar o recado ao Vigário. Que se chamava Domingos. Ele cultivava uma verruga protuberante na testa,bem no lugar onde descia a copa de seu chapéu.
- Seu Vigário – eu lhe disse – trago-lhe um recado de Santa Edwiges.
Ele duvidou porque era devoto de santana, e não de Santa Edwiges . Em todo caso,quis saber.
- Ela mandou dizer que o inferno acabou.
O Vigário duvidou ainda mais.
- Acabou como,acabou por quê?
- Acabou,me informou a santa,porque era uma repartição obsoleta. Também Murilo Mendes já dizia que o inferno existe, mais não funciona. Resta o purgatório, que é um departamento mais confortável e sem tortura. Quando muito há nele barata,ratos, pernilongos,pulgas e percevejos. E o senhor não precisa mais fazer sermões sobre os panelões ferventes de Belzebu.
- O que então eu vou pregar?
- Pregue a moderação, a concórdia e a pacificação.
- Isso não faz sentido – ponderou
- As pilulas da vida do doutor Ross também não faziam efeito, mais resolviam – eu lhe disse - e o regulador Xavier regulava.
Cumprida a minha missão,sai.
No coro da igreja cantavam:
“No céu, no céu...
Com a minha mãe estarei.”
Dali,fui estar com Dinorá,que estava toda garrida,num vestido estampado.
- Como foi a viagem? - ela me perguntou – Você demorou muito.
Respondi que fora mais ou menos,e que estava hospedado no hotel Aurora.
- Isto e um desproposito! - ela exclamou – Tem cabimento? - Vá buscar, já e já as malas.
Obedeci , e aqui estou com Dinorá.
Se você crê no inferno, meu amigo,e no inferno eterno, o gosto é seu.
Eu,por mim,creio no paraíso e em Dinorá.

                                       Annibal Augusto Gama